Envelhecer é como reencarnar, afirma escritor Ulisses Tavares
O escritor, jornalista, dramaturgo, roteirista, professor e ator Ulisses Tavares – que define todas essas profissões como uma só: operário da palavra -, mais conhecido pelos seus livros infanto-juvenis (metade de seus 126 títulos publicados), se dedica agora, aos 67 anos, a seu novo projeto: um livro de/para idosos.
Como surgiu o Engate uma 3ª e vá em frente?
De meus constantes encontros, aqui e lá fora, com os leitores adolescentes. É impressionante como velhos e jovens são iguais! Exemplos: jovens não usam camisinha porque nasceram pós-aids. Velhos não usam porque viveram pré-aids. Jovens se atiram em busca do prazer a qualquer custo. Velhos também, para tirar o atraso. Jovens são vítimas do mundo virtual porque acham que sabem tudo. Velhos porque não sabem nada. Jovens se endividam porque contam com vovôs e vovós para pagar a conta. Velhos se endividam para pagar a conta dos netos. E por aí vai. Ambos, jovens e velhos, se ferram igualmente no século 21.
Em suas palestras, o senhor define o envelhecer como uma espécie de reencarnação.
Não me preocupo muito com a vida após a morte. Mas com a morte em vida. De repente, você acorda velho e pronto. A alma é a mesma mas o corpo e tudo que o cerca é outro. O tesão, a dúvida, a dívida, está tudo igual só que tudo mudou. Dá medo sim.
E tem como superar esse medo?
Como budista, acho que a única saída é pensar na alternativa que resta. Pensar na morte. Isso ajuda muito a acalmar a mente, primeiro, e em seguida, realisticamente, tomar decisões de mudanças. Jovens não pensam na morte porque se acham imortais e por isso morrem bem antes do tempo biológico, por susto, bala ou vício. Mas tem muito velho que desperdiça seu dia por absoluta falta de coragem e alienação. Ou, mais frequente, vive em um passado que não volta mais. E fica rabugento e solitário. O jovem foge para dentro do celular. O velho para dentro de sua cachola parada no tempo. Burrice pouca é bobagem.
O que falta para os velhos se integrarem ao mundo de hoje?
Viverem o hoje, o agora, abdicar das velhas idéias e ideais. A era que vivemos quando jovens já era. O mundo atual não está preparado para a explosão do número de idosos. Só que os idosos, em sua maioria, não percebem sua força mesmo que numérica e se conformam em serem invisíveis, coitadinhos, fim de feira. Se esquecem que a xepa da feira pode render uma sopa bem saborosa e criativa. O corpo, sendo sólido, se fragiliza. O conhecimento, sendo imaterial, se fortalece. Até proponho uma campanha com o slogan: Velhos unidos jamais serão vencidos!
Por que o senhor classifica seu livro de utilidade pública?
Utilidade pública é toda informação que é importante para todos os públicos. Por isso, acho que, afora os velhinhos, quem deve ler o livro são os netinhos e netinhas. Para um choque de realidade. Tipo: seu avô e avó trepa e gosta de sexo. Ou: não transforme o lar de seus avós em depósito do que não cabe em sua casa. E, finalmente, a mensagem sobre um flagelo da sociedade brasileira: não faça filhos para seus avós criarem. Eles já pagaram os pecados criando a tranqueira de seus pais que originaram a tranqueira que é voce, jovenzinho ou jovencita sem noção.
Como foi sua juventude?
Bem diferente da de hoje, claro. Drogas eram para clarear a mente, não para entorpecer. Fui hippie sem butique.Ser era a meta, não ter. Sexo livre sem selfie. E o principal: aprendemos rapidinhos que mudar o mundo começa em mudar a si mesmo. Ainda dá tempo de fazermos isso de novo, espero.
Serviço:
Assessoria de imprensa/contato e contratos para palestras:
Nathália Toninatto
Assistente Executiva Escritor ULISSES TAVARES
(11) 99401-9528
poetaulisses@terra.com.br
Loja virtual: www.poetaulissestavares.com.br
Editora UTI/156 páginas/Ilustrações de Paulo Caruso