Jan 21

Zumbis, como sabem todos que assistem a essas séries tipo walking dead, não pensam, não têm emoções e, literalmente, cagam e andam, meio capengas, para o restante da humanidade viva e pensante.
Todos querem apenas sobreviver, isso é certo.
Zumbis e vivos apenas diferem no modus operandi. Aqueles não criam estratégias ou manhas para seus amanhãs. Estes, têm visão da continuidade.
No Brasil, às vezes, como agora, parece que viramos zumbis de vez. Por opção ou espirocação.
Os líderes-zumbis do governo dão entrevistas e, à conta-gotas, contam a verdade sobre a crise da falta de água. Pode observar as fotos e vídeos. Dizem mais que as falsas palavras. Todos falam com naturalidade do tal volume morto com garrafinhas de água mineral ao lado para umedecer as bocas secas de mentiras.
E o zumbi-povo quer acreditar porque é assim que a história e a biologia comprovam: ontem como hoje, o gado segue o líder. Nem que eles os leve para o abismo.
Somos todos zumbis, brasileiros sem cérebros, lá na cobertura e no porão da desigualdade social.
Choque de realidade não surte efeito em zumbis, de a à z.
Nem o zumbi classe A vai renunciar a seu conforto e privilégio. Nem o zumbi classe Z vai deixar de lado sua alienação e esperança de, um dia, virar classe A sem esforço.
Sendo prático, e ecossocialista, desculpem-me os socialistas que pararam no tempo em que as questões eram apenas marxistas e econômicas e de esquerda ou direita. O ecossocialismo chegou para lembrar que estamos todos no mesmo barco, essa nau insegura chamada Terra, prestes a naufragar em nossas mesquinharias e ultrapassadas convicções.
Nem Marx, nem Jesus. Apenas a frágil humanidade à deriva no mesmo Titanic.
Mas voltemos ao que a bússola do tempo, esse climatempo wébico 24 horas on-line, nos diz, inutilmente, todos os dias: os zumbis, que já estão mortos em vida, vão morrer de novo de sede na praia.
Nos entornos das represas – Guarapiranga, Cantareira, etc. – estão milhares de zumbis-povão – como dizem as hipócritas reginas casés, membros da comunidade, eufemismo de favela e passividade – faturando em cima da glamourização favelística. Esses zumbis jogam cocô e lixo e cadáveres, diuturnamente, numa boa, nas águas já sujas das represas vizinhas de seus barracos de ocupação ilegal.
Barraqueira, lato sensu, é isso aí: Nóis suja mesmo, mas somos inocentes, dotô! E, se insistir, nóis convoca as trocentas ongs de direitos humanos que faturam para nos proteger e para nos manter assim, porcos na merda, senão elas não tem como sobreviver.
A pergunta de alguns zumbis, tipo eu, com restinho de cérebro, que não pode se calar, é bem simples, bem povão: Quem vai ter coragem de peitar os zumbis favelados? Como tirá-los da vizinhança das represas?
É ilegal eles lá? Sim. Querem mudar? Não.
Mas os zumbis do phoder não se mexem. Eles são cúmplices, Hermanos, isso aí, mano.
Pano rápido, vamos olhar os mananciais, as nascentes, onde tudo começa.
E já começa mal.
Secando, porque precisam de no mínimo 150 metros de mata de lado a lado.
Mata não, mato comum serve.
Os agricultores até já sabem. Porém, zumbis que são, exageram nos agrotóxicos em suas lavouras, para extirpar as ervas daninhas, e são bem-sucedidos até demais. Acabam com a mata ciliar das nascentes.
Como no Brasil ninguém é culpado de nada, estão desculpados. Afinal, aqui todos têm profundo respeito pelo verde. O dólar é verde. E até reais são chamadas de verdinhas.
Daí vem a saia justa, na falta de camisa de força, dos zumbis autoridades (i)responsáveis: Contar que as chuvas torrenciais não alteram o nível das represas. Funcionário público brasileiro é tudo igual: ganha para trabalhar e corresponde trabalhando muito, contra os cidadãos, criando mais burrocracia, mais mordomias, mais propinas e menos eficiência, presteza, meritocracia. O funcionário público é uma privada, uma caixa-preta, uma fossa. Quem vai enfrentá-los? Cidadão fica na sua, óbvio, paga o mico e sai com seu papelzinho carimbado. Igual papel higiênico manchado de merda.
Represas como a Cantareira sempre foram abastecidas pelas nuvens de água, ou rios de água produzidos lá nas florestas amazônicas.
Acabaram com as florestas, the end para os rios de nuvens de água que, soprados pelo vento, caíam aqui no sul maravilha.
Quem vai questionar e enquadrar a poderosa indústria do agronegócio, com suas lavouras predatórias de soja e cana-de-açúcar e com os pastos de gado? Ninguém, muito menos os zumbis, afronta esse átilaa que aonde passa não cresce grama.
Enquanto isso, os zumbis tomam goles e goles do volume morto, numa boa.
Uma nação quase inteira unida no esquizofrênico funk ostentação. Quem precisa de H2O se não falta cerveja nem marias gasolinas e nem esmolinhas sociais?
A minoria com cérebro, acossada, cercada, politicamente incorreta, nem chora para não desperdiçar água. Perdeu, perdemos, playboy.
Sem água não há energia elétrica nem futuro nem vida, se é que isso que está ocorrendo pode ser chamado de vida. Pelas leis da biologia, da física e do bom senso, a tal da vida é apenas um rio que corre sem parar. Estas leis foram revogadas pelos zumbis-políticos, petralhas ou não, atendendo a seus eleitorados zumbis.
Brasileiro virou (ou já era assim?) versão tupiniquim de terrorista árabe. Homens-bomba sorridentes e mulheres sem burcas. Por fora, belas violas; por dentro, pães bolorentos.
No céu de Alá dos trópicos não nos esperam sete mil virgens, felizmente, ufa.
Apenas piriguetes siliconadas.
E, tomara, fartura de água.
Podre, suja.
Ninguém vai reclamar, claro.
Estamos acostumados e acomodados ao inferno mixuruca daqui debaixo, oras bolas.
Tiramos um selfie, pagamos o dízimo, tomamos um antidepressivo e vamos pular no bloco de carnaval Zumbis Unidos Jamais Serão Vencidos.
Volume morto não é a questão, nem a pergunta principal, nem a solução.
Volume morto somos nós todos.
Zumbis com, minoria, ou sem cérebro, maioria.
A lamentar, se fossemos sinceros, que hoje não vai dar para assistir o BBB nem sair para a balada!
Vamos todos protestar no Facebook. Nas ruas não que é perigoso. Elas são dos pccs e dos black brocks e dos sindicatos pedindo aumento de salários e nunca de melhorias dos serviços prestados. Curtiu? 

Ulisses Tavares é poeta e ambientalista. Só toma água mineral. Mesmo assim com relutância e culpa.

Aug 15

Com quem fica nossa criança de quatro patas?

Já passei por essa situação, corriqueira, mas dolorida, ene vezes. Por conta de minha sede e fome de vida plena, e por colocar o coração acima da razão, casei e descasei a perder a conta. Até aí tudo bem, nada a surpreender na vida de um poeta em tempo integral. Faria, e acabei de fazer de novo, sem pensar duas vezes.
Mulheres e musas passam. Algumas como o vento, brisas leves, outras como maremotos, tsunamis a devastar meus planos e sonhos. Todas desejadas, bem-vindas, amadas, amigas, amantes e companheiras desse navegar por um mundo hostil e consagrado ao deus mercado. Até que o navio encalha e cada um procura voltar a seu porto como der e puder, de iate, jangada, ou remando ou nadando ou andando e se lixando. De tempos em tempos, nos atracamos novamente. Porque amor não morre, apenas dorme ou fica escondido ou sonhando de olhos abertos.
O amor tem suas próprias leis, fluidas, escritas na areia da praia, das quais continuo apenas aprendiz de marinheiro.
Mas cachorros não passam. Gatos não passam. Animais de estimação nunca passam.
O que fazer com eles numa separação?
Esse é o problema. O resto é de solução bem mais fácil, embora sofrida: um vai para lá, outro vai para cá. E pronto. E ponto final ou reticências nos tribunais.
A relação entre os bípedes humanos acaba. Animais, porém, são fiéis até a morte. Instintivamente românticos por natureza. Para eles, o clichê do felizes para sempre é cláusula pétrea de seus corações felinos ou caninos, indiscutível.
É deles a superioridade de terem amor que resiste a qualquer intempérie, qualquer mudança do destino.
Agradeço sempre ter tido o privilégio de namoradas, ficantes e cônjuges, nunca criarem problemas quando o assunto era sobre quem vai ficar com o cachorro ou o gatinho.
Apenas uma ex, vingativa, para me punir, claro, descarregou sua raiva separando dois cães maravilhosos que tínhamos em comum e se adoravam.
O que ficou comigo morreu de câncer, o que ficou com ela também, pouco tempo depois. Coincidência ou aviso de tragédia anunciada? O que para nós é figura de retórica, para os peludinhos é literal: definham e morrem por abandono e falta de lar e aconchego. Tristeza e saudade nos afligem a alma. À eles, também o corpo.
Do alto, ou baixo, do que o amor e a dor me ensinam, me atrevo a aconselhar casais em vias de separação: discutam menos quem é culpado do que, quem errou de mais ou de menos, e outros quejandos que em nada contribuem para a paz futura, e se concentrem sobre o que fazer com os filhos de quatro patas e mil amorosidades e alegrias e cafunés em comum.
Nada de privar seu, ou sua, ex, de compartilhar a criança peludinha.
Entrem num acordo, como fariam se fosse o impasse sobre um filho ou filha. Filho e filho eles foram, são e serão.
Se a barra do diálogo estiver pesada, estabeleçam dias de visita, ao menos. Ou, mais bacana, deixem a porta aberta para a visita aos rabinhos balançantes.
Decidam com o coração esvaziado de raiva e frustração.
Os filhos e filhas de quatro patas amam e amarão os dois, independente de vocês não mais se amarem e se bicarem.
Animais de estimação não merecem, nunca, pagar pelos nossos erros, egoísmos e desacertos.

Ulisses Tavares pode até ser um exemplo de marido volátil. Mas nunca de um tutor ausente. Coisas de poeta.    

Separação Cachorros

Arte: Claudio Duarte

Jun 29

Se falou e muito dos animais bípedes denominados índios. Sim, aqueles mesmos que ficaram milênios tocando fogo na floresta, comendo macacos, numa boa, até que vieram os portugueses, ora, pois, e ensinaram maneiras mais eficazes de acabar com a vida. E, sim também, aqueles mesmos que nos legaram a sua dita cultura: quem não é da nossa tribo, nós matamos. Hoje não matam como antes, mas se dedicam a revindicar benesses governamentais e a continuarem a viver como índios, mas sem pagar impostos nem trabalhar e nem serem enquadrados pelas leis dos animais civilizados. Ìndio não quer mais apito nem espelhinho nem facão de aço: quer é viver como aqueles portugas e holandeses ensinaram. E os animais de verdade, a natureza? Ah, esses e essa estão aí como sempre estiveram, para nos servir.

Se protestou e muito sobre a economia verde. Vai acabar com a economia dos coitados dos bolivianos, que plantam coca numa boa. Dos paupérrimos afegãos que ganham seu suado dinheirinho cultivando papoulas que virarão ópio. Dos africanos que vivem na idade da pedra, em que havia mato a desmatar e animais para encher a pança.

Se evidenciou o papel das ongs ambientalistas, todas doidinhas por um holofote. Só que nenhum animal bípede e pensante tocou na ferida: apenas no Rio de Janeiro fevereiro e carnaval, existem duas ongs para cuidar de cada um dos mamíferos infantes das ruas. Eles continuam nas ruas, as ongs em seus feudos, pedindo mais verbas.

Se levantaram bandeiras sobre a raça negra. Como se os negros não fizessem parte da raça humana. São os negros o que, então? Uma raça de animais à parte, especial, com direitos diferenciados? Não viemos todos, negros e brancos, dos primatas, da família dos macacos? Novamente, negar a ciência, a biologia, a história, dá grana e seguimos, predadores que somos desde a origem, negros e brancos a encher o saco e o cofrinho.

Se deu voz as mulheres. Ninguém ouviu nenhuma fêmea acasalada dizer que era cúmplice de seu próprio espancamento, por amor, claro. Nem uma fêmea humana parideira contar que treinou seu filho, desde criancinha, para ser um machista predador.

Se ocuparam as grandes empresas em mostrarem como são auto-sustentáveis. Pelo visto, são todas anjos capitalistas que tiram seus lucros das tetas da mãe terra, mas se preocupam com ela, desde que ela não diminua seus rendimentos. Não serão elas a chorar pelo leite derramado.

Se mostraram solidários todos os partidos políticos. Nem precisavam. Afinal, todo mundo sabe que eles adoram o verde. O dólar não é verde?

Se aproveitaram os movimentos alternativos para protestar em vistosas e festivas passeatas. Com isso provocaram imensos congestionamentos e imensas descargas de gás carbônico. Isso que é ser ecológico.

E os animais, sim, os bichos de verdade, os não humanos?

Ah, esses ficaram de fora, como sempre. Só foram lembrados nas churrascarias, para onde todos os participantes foram comer.

Os que ocupam o topo da cadeia alimentar sabem o que fazem: explodir o mundo e posar de bonzinhos.

Bem que o poetinha quixotesco aqui tentou alertar. Até com o aval de seu currículo de autor de livros e manifestos a favor dos índios, dos negros, das mulheres, da democracia, em tempos em que isso tudo não era assunto palatável.

Mas quem liga para bichos e poetas hoje em dia?

Ulisses Tavares pede desculpas a todos os outros animais pelos animais hipócritas que somos. Coisas de poeta.

May 9

Sep 19

Ajuda aí, Datena!

Quem nunca assistiu o programa Brasil Urgente, sensacionalista como convém a uma atração televisiva policial, levante a mão. Você, exceção ou mentiroso, pode abaixar o braço para não ficar com câimbra.
O programa bate recordes de audiência e seu apresentador, Datena, faz muito bem o papel de justiceiro virtual de um Brasil real e impotente diante da injustiça.
Mas quem não acompanha o Datenão, grande, carismático e “gente como a gente”, também não precisa.
O que aparece na telinha é apenas a ponta de um iceberg sanguinolento que flutua no mar de lama do país.
Todos os dramas e mazelas que ele mostra diariamente na telinha, são apenas retratos bem editados da terrível insegurança pública.
Basta abrir a porta, ou nem isso, para se candidatar a virar notícia do Datena.
É torcer, e rezar, para não acontecer.
Não há como fugir da violência num País que até prende mas solta rapidinho bandidos de todos os tipo, classes e idade.
E o que tem tudo isso a ver com nós, os defensores de animais?
Simples: invariavelmente, as vítimas entrevistadas, ou seus familiares, classificam seus algozes e atacantes como animais.
E o Datenão também, na falta do adjetivo correto, chama de animais os bípedes humanos que batem e roubam e matam.
Ora, animais não merecem ser comparados a predadores humanos.
Isso só reforça o senso comum, e preconceituoso, de que nós somos superiores a tal ponto que, quando nos comportamos com selvageria com nossos semelhantes, nos “rebaixamos” a condição de bichos.
Puxa vida, isso que é, para usar outra expressão super utilizada, coisa de mundo cão.
Todos nós, aqui da Anda e dos grupos protetores de animais, sabemos que aquilo que bípedes humanos fazem com seus iguais biológicos, fazem em dobro com os seres sencientes de quatro patas ou que rastejam ou que voam.
E também impunemente.
Violência humana não tem paralelo, nem na linguagem, na natureza.
Bicho não mata sem fome.
Bicho não agride se não for para se defender.
Bicho não é gente. Ainda bem.
Os personagens de Datena são monstros, canalhas, bárbaros, etc. Menos animais.
Pelo que sei, Datena adora cachorros, lê muito e valoriza a cidadania, é sangue bom, enfim.
Bem que poderia usar sua influencia para colocar o rótulo certo nos calhordas escrachados em seu programa.
E, se possível, destacar as atrocidades que os inocentes e desprotegidos (e, além de tudo, difamados pela mídia e pela população!) bichinhos sofrem.
Os que não podem falar e reclamar, nossos irmãos de pelos, escamas e penas, mais sofridos que nós nesta terra de ninguém, agradecem.
Ajuda aí, Datena!

Ulisses Tavares não acha que humano e animal é igual. Humano é muito pior. Coisas de poeta.

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