László Krasznahorki ganha Nobel de Literatura 2025
Quando László Krasznahorki, romancista húngaro recebeu a notícia na madrugada de 9 de outubro de 2025, a reação foi de puro espanto: o escritor de 71 anos havia sido escolhido para levar para casa o nobel de Literatura. O anúncio foi feito pela Academia Sueca às 01:32 UTC, durante a tradicional reunião de membros que decide os ganhadores do prêmio mais prestigioso da escrita mundial.
Contexto e trajetória de Krasznahorki
Krasznahorki nasceu em 5 de janeiro de 1954 na cidade de Gyula, no leste da Hungria, numa família de classe média judaica. Seu pai, György Krasznahorki, advogado, ocultou a origem judaica até que o jovem tivesse 11 anos, enquanto sua mãe, Júlia Pálinkás, trabalhava na seguridade social. Depois de concluir o ensino médio focado em latim, ele iniciou estudos de direito na então Universidade József Attila (hoje Universidade de Szeged) antes de se transferir para a Universidade Eötvös Loránd (ELTE) em Budapeste, onde acabou mudando o rumo para literatura.
Entre 1978 e 1983, Krasznahorki estudou língua e literatura húngaras na ELTE, formou‑se e teve seu primeiro emprego na editora Gondolat Könyvkiadó. Seu primeiro romance, Satantango (1985), trouxe à tona seu estilo característico: frases longuíssimas que se desenrolam como correntes de pensamentos, retratando um panorama apocalíptico da sociedade pós‑comunista. O livro foi transformado em filme pelo diretor Béla Tarr, consolidando a parceria entre literatura e cinema húngaro.
Ao longo de quatro décadas, Krasznahorki escreveu obras como A Melancolia da Resistência (1989) e O Toco de Ouro (2010), todas marcadas por um humor sombrio e uma visão filosófica que desafia o leitor a encarar o terror existencial. Em 2015, recebeu o Man Booker International Prize, que já prenunciava um reconhecimento ainda maior.
Detalhes da premiação e cerimônia
A Academia Sueca destacou em sua citação oficial que o prêmio foi concedido "por sua obra persuasiva e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte". O anúncio chegou enquanto Krasznahorki falava ao telefone em Frankfurt, Alemanha, onde já se iniciavam discussões preliminares sobre os preparativos da cerimônia de dezembro.
O Nobel de Literatura inclui um prêmio monetário de 11 milhões de coroas suecas – cerca de 1,1 milhão de dólares – que será entregue oficialmente em 10 de dezembro de 2025, durante o evento em Estocolmo. A cerimônia reunirá escritores, diplomatas e membros da Academia, além de representantes do Ministério da Cultura húngaro, que já prometeram enviar uma delegação de apoio.
Para o próprio escritor, a notícia foi recebida com uma mistura de alegria e reverência. "É como se a palavra que escrevo fosse finalmente ouvida fora das fronteiras da Hungria", disse Krasznahorki em um breve comunicado enviado ao jornal AP, destacando que a literatura tem o dever de iluminar os cantos obscuros da história.

Reações da comunidade literária
Autores contemporâneos elogiaram a escolha. A escritora portuguesa Margarida Castanho comentou: "Krasznahorki nos mostra que a prosa pode ser tão densa quanto a música de Mahler, e ainda assim tocar o coração do leitor". Já o crítico literário austríaco Thomas Weber ressaltou que a decisão reflete o desejo da Academia de reconhecer obras que abordam “o medo universal do fim”.
Por outro lado, alguns observadores questionaram a complexidade das obras de Krasznahorki, argumentando que sua escrita pode afastar leitores menos acostumados com narrativas exigentes. "É um prêmio que desafia o mercado editorial a tornar o difícil mais acessível", opinou a editora sueca Norstedts.
Impacto para a literatura húngara
Esta é a segunda vez que a Hungria tem um Nobel de Literatura – a primeira foi concedida a Imre Kertész em 2002, reconhecido por seu relato do Holocausto. A vitória de Krasznahorki revigora o interesse global pelos escritores húngaros, provocando um aumento nas vendas de traduções para o inglês, francês e espanhol.
Livrarias em Budapeste relataram que as cópias de Satantango já foram esgotadas em pré‑venda, e editoras estão acelerando a publicação de versões anotadas para o público acadêmico. O governo húngaro, que tem investido em programas de promoção cultural, declarou que a conquista fortalecerá a presença da língua húngara nas universidades europeias.

Próximos passos e legado
Com o Nobel em mãos, Krasznahorki planeja ampliar sua presença em festivais literários, incluindo o Festival Internacional de Literatura de Praga, marcado para o próximo ano. Ele também mencionou um projeto ainda em fase de planejamento: um romance que combinaria texto e imagens, inspirado pela estética de Béla Tarr.
Independentemente dos próximos livros, o legado do escritor está assegurado. Sua obra, que se alimenta de frases que se estendem por páginas inteiras, continuará a inspirar debates sobre a condição humana em tempos de crise. Como resumiu a crítica britânica Lucy Hughes, "o Nobel não é apenas um prêmio; é um convite para que o mundo escute uma voz que fala sobre o medo, mas também sobre a esperança que persiste nas entrelinhas".
Perguntas Frequentes
Como a vitória de Krasznahorki afeta escritores húngaros?
O Nobel traz visibilidade internacional à literatura húngara, impulsionando traduções e vendas. Editoras locais já relataram aumento nas pré‑vendas de obras de autores contemporâneos, e universidades europeias planejam incluir mais títulos húngaros em seus currículos.
Qual foi a importância da Academia Sueca na escolha?
A Academia destacou a capacidade de Krasznahorki de reafirmar o poder da arte mesmo em contextos de terror apocalíptico, valorizando a relevância social e filosófica de sua obra, algo alinhado ao atual foco da instituição em literatura engajada.
Quando e onde será a cerimônia de entrega?
A entrega acontecerá em 10 de dezembro de 2025, no Salão de Conferências da Assembleia Real de Estocolmo, na Suécia, como de costume para todos os laureados do Nobel.
Qual foi a reação de Krasznahorki ao receber a notícia?
Ele descreveu o momento como "uma palavra finalmente ouvida fora das fronteiras da Hungria", mesclando surpresa, gratidão e uma sensação de dever de continuar a escrever sobre os medos e esperanças da humanidade.
O que diferencia a obra de Krasznahorki dos demais laureados?
Sua prosa densa, composta por frases extensas que simulam fluxos de consciência, combina humor negro e reflexão filosófica, abordando temas apocalípticos com uma estética única que poucos escritores conseguem alcançar.
1 Comentários
Raif Arantes
outubro 10, 2025 at 04:32
Acho que a escolha tem mais camadas que a própria trama de Satantango. O Nobel parece um prato coberto de simbologia hermética, quase como se a Academia tivesse um código secreto para premiar quem fala o idioma do apocalipse. Cada frase de Krasznahorki desencadeia um efeito dominó nas instituições culturais, como se um algoritmo invisível fosse ativado. Não é coincidência que o prêmio caia agora, quando o mundo está em pleno caos digital; há uma agenda de estabilização cultural por trás disso.
Então, quando ele disser que a palavra finalmente foi ouvida, estamos todos sintonizados na mesma frequência: a da resistência narrativa.